quinta-feira, 28 de abril de 2011

Remorso


Luis Fernando Veríssimo escreveu um conto com este mesmo nome e explica em poucas palavras logo no primeiro parágrafo: "Deus criou o mundo em seis dias, descansou no domingo e na segunda se arrependeu. Desde então a segunda-feira ficou consagrada como o dia internacional do remorso. Dia da ardência no esôfago e segundos pensamentos. De telefonar para os amigos e avisar que não nos responsabilizamos por nada dito, feito ou sugerido das seis horas da sexta-feira à meia-noite de domingo. Nem pelas ofensas nem pelos elogios."

Quando o fim de semana se estende num feriado a gente eleva isso ao quadrado. Enfim, um feriado como este último - que deveria ser de jejum e abstinência, conforme as leis deste mesmo feriado - acaba se transformando numa ORGIA (nome do livro do Veríssimo que tem o conto citado acima).

A gente começa despretensiosamente com um almoço leve na quinta-feira, mas já brinda o início dos trabalhos com uma cervejinha. E descansa o resto do dia porque sabe que o feriado promete. Comida japonesa a noite para poder dormir tranquila. Rodízio, claro! Sexta-feira é dia santo e tem aquela regra de não comer carne. Tá bem, então vamos juntar uma porção de pessoas e vamos comer risoto de camarão. Uma montanha de risoto! O almoço emenda com a tarde e quando vejo já estamos pedindo a pizza do jantar. Ah, mais o vinho, a caipirinha e a cerveja. Teve até que sair pra comprar mais cerveja porque acabou no meio da tarde.

E ai eu pergunto: adianta alguma coisa não comer a carne e cometer quase todos os pecados?

Comemos demais, bebemos demais, falamos demais, rimos demais e tudo demais! E quando você acha que acabou por ai ainda tem o sábado e o domingo para encarar. Como se fosse fácil ignorar o resto do feriado... É um que liga daqui e outro que combina dali. A feijoada do sábado e mais pizza. E já é domingo. Domingo é dia de missa para agradecer pela bagunça e pedir perdão pelos excessos. E também é dia de almoço com a família. E Páscoa. E mais um almoço de festa. E chocolate. Muito chocolate.

E que atire a primeira pedra quem nunca passou dos limites. Bebeu mais que devia. Comeu mais que podia. Prazeres da vida. E o remorso na segunda-feira.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Encontros

Todo mercado de trabalho tem a sua gang. Tem aquele povo que muda de empresa, que muda de lugar, que muda chefe. E tá sempre por ali, encontrando, reencontrando e desencontrando as mesmas pessoas. De vez em quando aparece uma cara nova na área e de duas, uma acontece: ou ela entra na gang ou cai fora rapidinho.

Nessa vida de trecho a coisa acontece bem assim também. E ai a gente acaba vivendo num mundinho fechado. Quando conhece alguém novo é como se já fosse um conhecido antigo. Até porque este novo conhece aquele lá do primeiro trecho, é primo daquele do segundo trecho e já foi casado com aquela do terceiro trecho. São encontros, reencontros e desencontros diários de gente que não se conhece (ou melhor, que nunca se encontrou), mas se conhece bem.


Cheguei à conclusão que as pessoas que trabalham numa área acabam sendo muito parecidas. Quem é do trecho, por exemplo, tem que ter certas características que são necessárias para a sobrevivência e ai é que a coisa fica mais interessante. Se tiver esse monte de gente que é tão parecida com você, a facilidade de ter novos colegas, amigos e companheiros é cada vez maior. E acontece. Sempre acontece. Uma regra.




Cada cidade que a gente chega tem sempre um ou dois novos casais que de cara já convidam a gente pra jantar ou almoçar ou um churrasco de qualquer hora. As primeiras duas horas são de reconhecimento do terreno, e ai dá pra notar que são pessoas que tem suas vidas tão similares as nossas que logo viram amigos de infância. Fora essa coisa de que um que conhece o outro que conhece o outro e de repente a gente já tá falando mal desse e daquele. Coisas da vida. Às vezes não dá liga – é difícil, porém pode acontecer. E ai acontece um desencontro. A exceção da regra.

Encontros e desencontros. E tem também os reencontros. De gente que fica muito tempo afastado por causa de outros trechos e ai os trechos se encontram. Em outra cidade, por outra empresa, com outro chefe. E que delícia! Um encontro que é um reencontro – ou vice e versa.

Adoro tudo isso. Encontrar gente nova e reencontrar gente velha (que ninguém se ofenda com o a palavra velha!!). Dos desencontros. No fim, eles são engraçados. Do jeito que vem, ele vai. Passa, vai embora. E depois reaparece em outro trecho, com outras pessoas - ou com as mesmas pessoas. Deixa pra lá...

Os encontros é que me interessam. E um reencontro não deixa de ser um encontro. Encontro de vidas. De almas e de corpos. Que se encontram para dar risada. Para esquecer os dias pesados do trabalho e da saudade. Que se encontram para ser feliz. E viver em harmonia.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tendinite


Tendinite é uma dorzinha chata que persegue há mais de 15 anos.

A primeira vez deu trabalho, começou com a dor na mão e depois ela andou até o cotovelo e alguns meses depois eu tinha o braço todo tomado. Rodei por médicos, exames, terapeutas e quase parei a faculdade de publicidade para fazer a de fisioterapia. Conhecia todas as técnicas, exercícios e necessidades. Passei perrengues tristes e engraçados: queimei a mão com a parafina da clínica por uma desatenção da terapeuta, o gesso era tão pesado para imobilizar o braço todo que o resto do corpo não aguentava carregá-lo, briguei com uma ex-chefe que ligou na minha casa e me mandou voltar pro trabalho mesmo com gesso e com dor e mais mil episódios. Ouvi muitas versões de variados médicos. Cheguei a ouvir que nunca mais meu braço seria normal e que eu nunca mais poderia usar o controle remoto, o computador ou carregar um saco de açúcar.

Um dia, ali ao lado da casa da minha mãe eu conheci uma fisioterapeuta recém formada que saiu do básico e do óbvio. Primeiro ela me mandou para a água, tanto na terapia quanto fora. Fui pra piscina. Fazia um frio absurdo e eu acordava cedo para ir pra piscina - eu e uma dúzia de senhores e senhoras com mais de sessenta anos. E como eu dava risada. Metade da terapia era o convívio com eles, a outra parte era me soltar na água. Sem muito sentido. Só me mexer na água quente, sem muito esforço. E quando eu ia pra fisioterapia lá ia eu pra água novamente, uma batedeira de bolo enorme que eu colocava o braço enquanto a água quente massageava meu exterior e o barulho do motor hipnotizava o meu interior. Esta mesma criatura me apresentou a acupuntura e a massagem relaxante. Entendi que a acupuntura não alivia apenas as dores locais, mas trata todo o sistema, aliviando muito mais do que a tendinite. E tudo aquilo que fiz em seis meses foi esquecido e substituído. Sarei. Uns dez anos depois eu vi esta mesma terapeuta numa reportagem na TV. Ela e suas terapias alternativas tinham conquistado o Hospital das Clínicas em SP. Parabéns, resultado merecido.

Sarei  apesar de sentir algumas pontadinhas quando exagero no computador. Nada preocupante. E voltei à vida normal. Até o ano passado quando uma dorzinha velha conhecida começou a cutucar o meu joelho. E lá fui eu ao médico. Exames e terapias e tudo mais. Conversando com o médico chegamos à conclusão que a tendinite apareceu de tanto andar na areia da praia. A areia não era muito nivelada, era mais como praia de tombo, quando a areia tem um desnível quando se aproxima do mar. Enfim, forcei o joelho de tanto andar na areia torta. E eu achando que estava fazendo um ótimo exercício... Pra cabeça sim, mas para o corpo não funcionou. Voltei pra fisioterapia comum - aquela básica. Louca pra voltar pra acupuntura e me livrar desta dor. Mas o trecho em Mucuri não me dava esta oportunidade. Ainda tive que ficar bem feliz por ter uma fisioterapeuta carioca que me ajudou bastante.

Aqui em Curitiba voltei ao médico. Ele disse que a acupuntura ajuda, mas que tem que fazer a fisioterapia. Tá bem, ele é do tipo que não acredita. Eu só acredito porque senti na pele. Vou fazer o básico. Além de procurar um terapeuta especialista em acupuntura, claro. Achei. Um velhinho muito simpático. Que sei que vai me livrar da dorzinha do joelho e muitas outras coisinhas chatas que todos nós temos e que nos incomodam. Uma dorzinha de cabeça aqui, uma alergia ali.

E assim vai. Eu e meu joelho. A procura de uma vida melhor.