quinta-feira, 9 de maio de 2013

Cidades




Já rodei muito por ai. Conheço muitas capitais, algumas praias desertas – ou quase, destinos de aventura, metrópoles que não dormem e uma infinidade de culturas. Mesmo dentro de um mesmo país do tamanho do Brasil temos uma diversidade absurda de cidades. 

O trabalho me levou por 3 interessantes modelos de capitais dentro de um mesmo mês e quero compartilhar minha experiência...

Comecei em Porto Alegre, onde o povo tem o seu vocabulário próprio como qualquer outro extremo: como todos sabem o pão francês é cassetinho – já começa por ai! E tem mais um zilhão de outros itens que precisam de tradução para alguém de fora. Passei por SP e sua infinidade de ‘gringos’, meus amigos queridos e um tempo maluco. Terminei em João Pessoa- na Paraíba, para os desavisados – num clima quente e cheio de vento que impede qualquer mulher de se manter maquiada e penteada por muitas horas.

Mas o que quero falar é dos cenários. Para quem gosta de observar o que está a sua volta, digo que foi um mês um tanto cheio de surpresas.

Chegar a Porto Alegre num domingo chuvoso é chato. Silencioso, demorado e muito, muito chato, o domingo se arrastou por horas cinzentas. Porto Alegre já era uma velha conhecida, mas mesmo assim o tempo era cinza e meu humor estava exatamente da mesma cor. Dias depois o sol resolveu aparecer e o mundo todo sorriu.

Cheguei ao quarto do hotel num fim de tarde e de cara com o por do sol. Afirmo que um dos mais belos que me recordo... Eu estava no alto, mais precisamente no 11º andar e presenciei os últimos minutos do brilho rosa-alaranjado sumindo atrás do rio Guaíba. Fiquei alguns segundos parados diante do poder daquele astro. Quente, poderoso. Um colorido que não aquece apenas o corpo, mas repõe energias internas, ilumina o interior da cabeça e me faz lembrar a preciosidade da vida. 

Não consigo me lembrar do que passou pela minha cabeça, mas o encantamento era hipnótico. Apesar de não me sentir em casa naquela cidade, por alguns segundos esqueci tudo e fiquei em silêncio no meio do nada. Perdida. Ou acolhida?

De Porto Alegre para São Paulo e mais um domingo. Mesmo para quem gosta de agito, SP ainda pode impressionar. Ainda mais na Av. Paulista. Desta vez o fim de tarde estava quente e todos aqueles bares cheios de pessoas semi-embriagadas. Uma multidão passeia pela rua, uns com seus namorados, outros com cachorros, outros ainda com crianças. Prédios que brotam por todos os lados, ônibus, motos, carros, metrô e por um momento sinto o conforto de estar em casa. São Paulo já não é mais minha casa há alguns anos, mas aquele ar quente e parado me trouxe recordações dum tempo que eu vivia fazendo tudo àquilo naquele lugar. 

E meu coração de encheu de nostalgia. Meio melancólica acabei por me sentir solitária, como uma intrusa num mundo que não te pertence mais. Pareceu até outra vida. Como se os tempos de Av. Paulista tivessem acontecido com uma outra Valeria. Transformada pelas lembranças, senti meu olhos úmidos. Mistura de cheiros e sabores. Lembrança das noites passadas naquelas calçadas. Os namorados e os cinemas. A juventude meio rebelde. E aquele ‘maldito’ boteco Opção – que tem exatamente a mesma atmosfera há sei lá quantos anos. Maldito no sentido bom da palavra, se é que é possível.

E por fim João Pessoa que me abraçou com o vento e me lambuzou de maresia. Me acordou todas as manhã – as 5 horas! – com o sol inundando o quarto. Que me permitiu trabalhar de vestido e sem meia calça. Preencheu meu ser de alegria e de suas comidas típicas – e fortes! Com o sotaque arrastado. Com a água quente saindo das torneiras. Com a sensação de já ter estado naquele lugar, mesmo sem nunca ter pisado na cidade antes. A visão do mar e as variações de verde. Cada hora do dia um verde diferente – às vezes turvo, às vezes claro. 

O vento forte e contínuo que bagunça a roupa, que embaraça o cabelo e que carrega areia para todo canto. Vento impressionante, incansável. Que provoca arrepios. Que grita durante a noite e refresca os dias. E então a imagem final – na ultima noite – é de uma lua refletida na água do mar. Prateando as ondas, acinzentando a areia. As luzes dos barcos espalhas ao longe. O vento que leva e traz as nuvens que escondem a lua e então, de novo trazem seu brilho. E mais uma vez me sinto mole, boquiaberta. Parada. Com aquela sensação de não pertencer aquele lugar, mas com uma nostalgia amiga. Como se tudo aquilo fizesse parte de mim.

*escrito em setembro/2012

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